quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A CAMPANHA CONTINUA...FAÇA SUA PARTE


 





                  
Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil

Nada melhor do que um ano de copa do mundo, onde tudo gira em torno do esporte mais popular do planeta, o futebol, para falar de um assunto grave e que ainda é tabu, dotado de preconceitos e mitos, para colocar em campo o tema: trabalho infantil.
O futebol é hoje paixão nacional que encanta meninos e meninas com o sonho de fazer carreira. Sonho esse que fomenta o imaginário de milhões de crianças, sobretudo as pobres, que veem neste esporte uma possibilidade de ganhar além do poderoso dindin, prestigio e, enfim, cidadania.
Um, em alguns milhões conseguem atingir essa meta. Contudo, a duras penas.  Porém é um sonho que é esmagado pela realidade. A pobreza vai desenhando outro quadro. Muito precocemente estas crianças se dão conta que estão obrigadas a ir ao mercado de trabalho para ganhar o pão de cada dia, sobrevivendo frente à brutalidade do mundo capitalista, se submetendo inclusive nas piores formas: carvoaria, prostituição, tráfico, trabalho doméstico, dentre outras.

Pensando nisso que o Fórum Nacional e Paulista de Prevenção e Erradicação do trabalho infantil resolveu interagir com essa realidade, dialogando cada vez mais com a sociedade na busca por superar mentalidades arraigadas em crenças perpetuadas pelo interesse da classe dominante de que para ao pobre, a melhor saída é o trabalho.Tal defesa é impensável quando se trata de seus filhos, cuja vida é bem diferente. O capital compra tudo. O tempo lhes pertence, a essas crianças é garantida da infância: tempo de brincar, estudar e se formar como pessoa, o que deveria ser uma garantia a todas as crianças, pelo simples fato de a ser. O mundo adulto capitalista rouba a infância, subverte a ordem: torna a criança responsável pelo adulto, às vezes por uma família e o faz de forma extremamente lucrativa. Utiliza de seus aparatos ideológicos para manter essa situação. Temos como resultado, mais de 05 milhões de crianças nestas condições. Mais de 1,2 milhões nas piores formas, realidade essa que se espalha pelo Brasil afora.
A idéia do CARTAO VERMELHO, contando com o apoio de craques, juízes e jogadores famosos como Robinho nos ajuda a colocar o tema em debate nos campos de futebol.
Quiçá não nos conformemos com a miséria tanta, que faz com que não queiramos ver que, mesmo ao tropeçarmos nas ruas centrais das cidades e nos centros das periferias com elas, jogadas nas ruas como um lixo, por um fugaz instante, nos sentimos impotentes frente aquele ser totalmente indefeso pedindo socorro, que vive em situação de extrema vulnerabilidade, que denuncia ao olho nu o que a sociedade capitalista tenta ignorar e o poder público se omite. Drogadas, prostituídas, enlouquecidas e desumanizadas continuem pagando o preço de um mundo marcado por profundas desigualdades, embrutecidos e nós, seguimos em frente?
É preciso prosseguir na luta por um pais onde a maternidade seja dotada também de paternidade, homens e mulheres possam ter seus  filhos e que o País possibilite sustentá-los, em todos os sentidos – protegê-los   para que se tornem pessoas saudáveis dotados de plena cidadania.

Passada a copa é hora de votar, dar continuidade ao projeto desenvolvido implementado pelo governo Lula, que sem duvida nenhuma, tem feito mudanças significativas para a vida dos mais pobres.  Basta dizer que em 1999, no Brasil havia no trabalho infantil mais de 11 milhões crianças e esse numero foi reduzido pela metade. E fato que a bolsa família e a bolsa PETI têm amenizado esse quadro de trabalho infantil, mas não o resolvem. Isso só é possível com mudanças estruturais, tais como: o fortalecimento do estado brasileiro, desenvolvimento com distribuição de renda, reforma agrária, reforma educacional, valorização do trabalho com sustentabilidade sócio ambiental e soberania nacional. Metas fundamentais para que possamos caminhar para o fim do trabalho infantil.
Trabalhar somente em idade apropriada, conforme luta e conquista já feita em lei. Vamos dar continuidade a esse processo de mudanças, caminhar para outro tipo de sociedade, inverter valores e colocar o ser humano no centro de tudo e derrotar o sistema capitalista nefasto que nada tem a oferecer a humanidade. Essa é a luta!

Marcia Regina Viotto
Socióloga e Assessora CTB
Titular do segmento dos Trabalhadores – Fórum Paulista de Prevenção e Erradicação do trabalho Infantil pela CTB
artigo publicado originalmente no site:
www.ctb.org.br  




Por Ubetânia Monteiro

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O papel das TICs contra o TI

A tecnologia “desencadeia”, “possibilita”, “multiplica” um conjunto de oportunidades para “sustentar lugares de encontro”, para “construir pontes” e “fazer sinergia” entre os atores sociais que têm intenção de colaborar e cooperar para a erradicação do Trabalho Infantil. Neste trabalho, a título de ensaio, refletiremos sobre as oportunidades que se abrem para nós, pensando sobre as redes e alianças em relação a um dos atores sociais: os educadores. Leia e participe da discussão sobre essa temática no Fórum.
Como as Tecnologias da Informação e Comunicação podem ajudar a fortalecer as ações para o combate ao Trabalho Infantil?
Poderia responder a essa pergunta com uma afirmação simples:
Se penso nos educadores das crianças e adolescentes afetados pelo Trabalho Infantil, as Tecnologias da Informação e Comunicação constituem uma oportunidadepara ajudar a fortalecer as ações para combatê-lo.

Trata-se de uma oportunidade na medida em que possamos ouvir as perguntasfeitas pelos professores, psicólogos, assistentes sociais, médicos, pais, mães e pesquisadores que estão em contato direto com as populações afetadas pelo trabalho infantil. As perguntas nos permitirão identificar as necessidades e os problemas e, a partir daí, delinear projetos, programas e ambientes virtuais que potencializem o trabalho que os educadores vêm realizando para combater o Trabalho Infantil. 

Quando começamos a dialogar com eles e elas sobre a inclusão de novas tecnologias, as preocupações têm um espectro amplo, pelo menos no caso da Argentina. Recupero aqui algumas das que ouvi e registrei nestes últimos dois anos[1]

·         O que devemos fazer para que os aparelhos não sejam furtados? (diretores de escolas e centros comunitários)
·         O que devemos fazer para ensinar com tecnologia ou ensinar a usar as tecnologias se nós não sabemos como usá-las? (um professor de ensino fundamental)
·         Como podemos criar materiais de leitura atraentes e relevantes para adolescentes que se encontram defasados em termos de idade com relação ao currículo oficial? (uma professora de ensino fundamental)
·         Nossos alunos têm muitas carências. Eu gostaria que levassem a tecnologia para sua casa, gostaria de estar presente, manter o contato, dar-lhes tarefas quando faltarem à aula. Viu o Uruguai, que dá um computador por criança? Como se faz isso? Quais são os aparelhos tecnológicos que melhor nos resolveriam esses problemas? O que devemos levar em conta para que isso não seja complicado e ameaçador para as famílias dos alunos? (uma diretora de escola)
·         Tenho medo que minha filha entre no bate-papo na Internet. Lá, nem tudo é bom para ela. Ouço nos noticiários que organizam brigas entre adolescentes, que há meninas que foram contatadas para conseguir um trabalho e depois se descobriu que era algo muito ruim. O que faço para ensinar minha filha o que é bom e o que é ruim na Internet, se eu não sei nem ligar a máquina? Ela tem muita vontade de vir e aprender informática, mas tenho receio. (uma mãe que leva sua filha a um centro comunitário para fazer as tarefas)
·         Existe um software que me ajude a melhorar o ensino da divisão? Esse é um problema que vem se repetindo no grupo de ajuda escolar. Imagino que deva existir algo. Mas não sei onde procurar. Tantas informações me confundem, me cansam. Você fica lá horas e horas e não consegue encontrar o que procura.” (um professor de segundo ano)
·         Você conhece alguma comunidade que tenha tido o mesmo problema que nós? Como a procuro, como me comunico com ela? (um psicólogo que faz parte da equipe técnica de um centro comunitário)
·         Li em um jornal que o pesquisador... vem trabalhando com a problemática das crianças e adolescentes que trabalham nos lixões. Fiquei espantada. É do nosso país. Nós trabalhamos com uma população desse tipo. Acha que fica mal se eu o contatar? Agora que tenho uma sala com computadores, câmeras, microfone e conexão com a Internet, imagino que possamos fazer algo com os professores. Talvez já tenha algumas respostas para os problemas que nós temos com as crianças. Não sabemos como avançar em alguns casos. (uma dinamizadora do Projeto Aula da Fundação Telefónica)
·         Agora que temos as máquinas no centro comunitário, seria muito útil que as mães aprendessem a usar a Internet. A princípio para buscar informação sobre os planos que recebem do Estado, os horários dos hospitais e centros de saúde, requisitos sobre trâmites que devem fazer... A partir daí, seria interessante que pudessem começar a se conectar com páginas onde se encontra informação sobre a violência. Parece-me que se cria um espaço privado onde a mulher pode buscar informação sem que as outras pessoas percebam que está buscando. Às vezes, a mulher que sofre violência evita falar com o assistente social nos centros de saúde porque receia que seu companheiro fique sabendo. Por onde começar? O que fazer se a leitura e a tecnologia estão tão distantes para elas? (uma assistente social de um centro comunitário)

É uma oportunidade na medida em que possamos gerar pontes, conexões, colaboração genuína entre essas perguntas e aquelas comunidades, pessoas que já têm certa trajetória em responder às mesmas perguntas ou a perguntas semelhantes.  Se não criarmos essas pontes, corremos o risco de perder os saberes acumulados. Cada sujeito, cada comunidade necessita fazer a pergunta. Sabemos que, sem pergunta, raramente aparece o interesse, a compreensão genuína. Mas também sabemos que é muito provável que a pergunta que fazemos responde a perguntas feitas por outras pessoas, outras comunidades, em outros lugares do nosso país ou do mundo. Como não favorecer esses encontros, se hoje contamos com a Internet?

É uma oportunidade na medida em que possamos delinear planos de formação para os professores e equipes de saúde que atendem essas populações. As ofertas de formação permanente ligada ao combate ao trabalho infantil precisam ser pensadas em termos de um adulto que está exercendo um ofício e precisa vincular seus papéis, funções e tarefas ao potencial das novas tecnologias. As investigações na área de aprendizagem de adultos nos permitem assumir como hipótese que o tempo dedicado a aprender está ligado ao interesse que o conteúdo desperta com relação aos problemas e necessidades que esse adulto encontra no desempenho de seu ofício. Também sabemos que esses adultos, em algumas ocasiões, não questionam suas práticas. Então não aparece a necessidade de contar com tecnologias, que são vistas como ameaças. A tecnologia não gera as mudanças. Os processos de formação e atualização de professores que delineamos utilizando tecnologias serão o que permitirá um currículo adequado às distintas necessidades e saberes prévios dos educadores.

É uma oportunidade na medida em que possamos delinear, entre organismos governamentais e não governamentais, políticas e ações de acesso técnico às novas tecnologiastanto para os educadores como para os alunos. Nas escolas e nos centros comunitários, bem como nos lares. Projetos e programas de inclusão de tecnologias que possam pensar estrategicamente quem deve acessar primeiro as tecnologias, em que lugares (nas escolas, nos centros comunitários, nos lares) e por quanto tempo se espera garantir a viabilidade do acesso técnico (fornecimento de novos aparelhos, manutenção e serviços de conexão nos lugares que são necessários). Não parecem existir efeitos de curto prazo nos processos educativos. Enfrentamos um paradoxo de difícil resolução quando se incorporam aparelhos a processos educativos esperando medir efeitos rápidos. Algumas pessoas e comunidades, em função de estratégias já estabelecidas, conseguem enriquecer suas práticas com os projetos “que lhes vêm de fora” e se limitam ao fornecimento de novos aparelhos tecnológicos. Porém, para a grande maioria, a relação entre investimento e oportunidades é muito pobre caso os processos não sejam de longa duração.

Essas quatro oportunidades se justificam no trabalho de campo que venho realizando nos últimos dez anos, participando de diferentes grupos que visam à incorporação de tecnologias às práticas de ensino e/ou nas escolas.

Na Argentina, podemos observar algumas recorrências que nos permitem esboçar, a título de hipótese, dimensões interpretativas a respeito dos inibidores da mudança nos projetos que incluem tecnologias.

1. O acesso real às tecnologias:
- O fornecimento de aparelhos tecnológicos, do software e da conexão com a Internet.
- A atualização dos aparelhos tecnológicos e do software.
- A manutenção da tecnologia instalada.

No contexto da Argentina, esses três atributos da tecnologia geram tensões de difícil resolução nas instituições e nos governos das jurisdições: novos investimentos permanentes versus pressupostos educacionais limitados e com outras necessidades primordiais ainda não atendidas.

2. A atualização docente necessária para incluir as tecnologias nas propostas de aula. Os projetos bem-sucedidos são aqueles que conseguem ensinar as ferramentas de informática necessárias e suficientes para resolver os interesses do professor com relação ao ensino de um conteúdo particular, acompanhando-os desde a delineação da proposta até sua implementação com os alunos e alunas. Assim se geraria uma atualização que resolve de forma simultânea os aspectos pedagógicos e técnicos ligados à inclusão de tecnologias.

3. As normas de trabalho vigentes.
No ensino fundamental e médio da Argentina, as leis trabalhistas vigentes atribuem ao professor o total de sua carga horária de trabalho para dar aulas para os alunos. Isso inibe qualquer processo colaborativo sistemático entre professores, gerando um obstáculo difícil de transpor para a implementação de experiências de currículo integrado. O potencial das tecnologias para estabelecer as comunidades de aprendizagem como o trabalho colaborativo veem-se limitadas ao trabalho daqueles professores que, por interesses pessoais, decidem investir um tempo “extra” bastante significativo com relação a seu contrato de trabalho.

A tecnologia em si não gera colaboração e cooperação perante os problemas que tentamos abordar neste encontro. A tecnologia “desencadeia”,“possibilita”,“multiplica”um conjunto de oportunidades para“sustentar lugares de encontro”,  para “construir pontes” “fazer sinergia”entre os atores sociais que têm intenção de colaborar e cooperar com relação a uma ideia comum. Meu avô nunca poderia ter imaginado essas novas oportunidades: sua mãe morreu na Itália e ele ficou sabendo 6 meses depois. A Itália estava em guerra. O único meio de acesso à comunicação para eles era o correio postal.



Por Ubetânia Monteiro